Looking For Anything Specific?

" />

Confrontando ciência com fantasia | Eve no Jikan | Review

No futuro Japão, em uma época em que empregadas domésticas androides se tornaram comuns, a sociedade obedece estritamente às Três Leis da Robótica, que todos os androides devem seguir. Sob a influência do Comitê de Ética Robótica, os androides são tratados da mesma maneira que a menor tecnologia, como eletrodomésticos. No entanto, existe uma minoria com uma adoração por androides, categorizada como "android-holics", e é evitada pelo público em geral. Rikuo Sakisaka foi criado para aceitar o preceito da sociedade sobre androides e está perfeitamente ciente de que eles não são humanos. Isto é, até o dia em que ele descobre uma mensagem estranha enterrada nos registros de atividade de seu androide doméstico, Sammy. Isso o leva a Eve no Jikan, um café com apenas uma regra: não deve haver distinção entre humanos e androides. A curiosidade leva Rikuo a aprender mais sobre a loja, e ele tenta descobrir a razão por trás do comportamento peculiar de Sammy.

Sinopse: Info Anime

Direção: Yasuhiro Yoshiura

Studio: Studio Rikka

Quantidade de episódios: 6

Temporada: Verão 2008

Apesar de Eve no Jikan ser uma obra com elementos de ficção cientifica, e até se utilizar de algumas teorias e temas sobre a convivência de humanos e maquinas em um futuro próximo, o anime de fato busca desenvolver essa relação de forma mais fantasiosa com a temática – uma espécie de fantasia moderna com elementos futuristas.

 

A primeira cena em que os personagens são introduzidos ao espaço da cafeteria, é apresentada uma realidade diferente à aquela dos minutos iniciais. Uma realidade que vai se contrapor em relação ao cotidiano, tanto dos humanos quanto dos androides. Ao entrar na cafeteria, o anime exibe um tom mais livre, tornando a perspectiva do espectador sobre os personagens, conversas e situações muito pessoais naquele local.

O próprio exterior da cafeteria possui uma luz meio enigmática que ronda aquele lugar, como se indicasse que ali existe algo de anormal. Até o corredor onde os personagens passam da parte exterior para a parte interna da cafeteria também apresenta elementos que dão a entender uma mudança de realidades.

 

Yoshiura é o diretor que melhor se utiliza da técnica do CGI ao seu favor. Não é aquele CGI usado como um tipo de “ornamento”. Como quando o anime usa sem tentar parecer que é de fato CGI – como alguns animes parecem ter medo de fazê-lo aparecer no meio do 2D. Aqui, Yoshiura não só o usa, como o evidencia quase que de forma explicita. Ele realmente assume a técnica como algo concreto, como parte daquela realidade. Alguns espaços dos cenários ganham uma dimensionalidade meio “fake”, mas que tem um proposito muito eficaz dentro desse espaço mais fantasioso que o anime cria.

Outro uso bom além de dimensionar muito bem os objetos e personagens nesses espaços, são alguns movimentos de câmera e planos de uma perspectiva mais objetiva. Um dos grandes fortes de se usar 3D em animações, é poder movimentar a imagem de forma mais livre, o que no 2D, é um resultado mais difícil de se alcançar. Esse movimento de câmera que observa as coisas, quase como se fosse um tipo de entidade. O anime por muitas fazes faz planos em que o espectador é colocado na visão de algum personagem que caminha por aquele espaço. Essa perspectiva objetiva e pessoal do plano ganha uma importância maior na humanização dos personagens, principalmente, quando o anime faz alguns planos mais sutis.

 

Os personagens humanos tem uma relação distanciada dos androides quando não então dentro da cafeteria. Ainda nos primeiros episódios, o anime apresenta um olhar mesclado desses personagens com o restante das coisas – pois até aí, eles são realmente objetos. As expressões dos androides e o modo como dialogam ao responderem uma pergunta é sempre com um tom distanciado. Essa relação com o passar do tempo vai sendo desconstruída aos poucos.

Essa relação deles fora da cafeteria, em alguns momentos vai ganhando um tom mais melancólico e dramático. Na cena do Sakisaka andando na chuva com a sua androide, Sammy, quando logo em seguida, aparecem algumas pessoas logo a frente, e ele por vergonha a deixa na chuva se molhando. A reação da androide é olhar fixamente para ele, e em seguida olha para frente, mas sem demonstrar tristeza, raiva ou qualquer emoção naquele momento. É uma cena muito forte, e apesar de simples, carrega o peso daquela personagem provavelmente esconder ou realmente não conseguir expressar o que sente com aquele ato. Ou no primeiro episódio, quando os dois personagens principais se deparam com a personagem da Akito ainda na escola. O anime intercala dois planos de ambos se olhando (Sakisaka e Akito), muda para um plano em que vemos a personagem de uma perspectiva subjetiva do protagonista, e depois no mesmo plano, acontece um leve movimento para cima que revela uma auréola, indicando que a personagem também é uma androide. E mais uma vez, vemos uma reação contida e sem sentimentos.


Desenvolver uma identidade humana e sentimentos em maquinas não é algo realmente novo na ficção cientifica. Entretanto, a diferença de Eve no Jikan, e talvez de toda a abordagem do diretor, seja que, os conceitos abordados por ele servem apenas como escada para algo maior que se constrói em seus trabalhos.

Toda essa construção humanizada dos androides não tem necessariamente um envolvimento tão direto com às teorias cientificas. E sim, é verdade que são mencionadas algumas coisas, como às 3 leis da robótica e outras teorias, mas toda essa lógica cientifica fica em segundo plano, e é subvertida brilhantemente por essa estrutura fantasiosa que o anime constrói.

O anime realmente termina sem uma explicação ou justificativa para os androides agirem como pessoas comuns. Eles podem realmente se tornar ou chegar o mais próximos de serem humanos quando estão dentro da cafeteria; pode ser que eles tenham sentimentos como humanos e apenas reprimem e escondem isso quando estão fora da cafeteria. Mas essas explicações ou verdades sobre o que acontece com os androides dentro e fora daquele lugar, no final das contas não importam. O que importa de verdade é que o Yoshiura acredita no real encanto que aquele local apresenta, mesmo que no final das contas, ele não resolva o mistério sobre ele.


Essa forma de resolver seus temas e abordagens de forma fantasiosa, mesmo partindo de alguns ideias científicos e teóricos, é algo já muito usado pelo diretor anteriormente em outros de seus curtas, e continua evidente em seus trabalhos posteriores a Eve no Jikan. É um modo perigoso de criar e abordar um tema, já que atualmente, poucas pessoas ainda tem essa sensibilidade em se conectar com obras que presem pela fantasia, e imagine então se essa relação partir de algo cientifico. (Makoto Shinkai e Shinichiro Watanabe que o digam).




Henrique Neves é fundador, administrador e escritor do site Casa dos ReviewersFormado na faculdade de Jogos Digitais da Universidade Nove de Julho e estudante ativo (autônomo) de linguagem cinematográfica e animação.

Cargo: Administrador/Escritor

Redes sociais:                      


Postar um comentário

0 Comentários