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As Senhoras de Salem | Review

 




Título Original: Lords of Salem

Diretor: Rob Zombie

Ano: 2012

Heidi Hawthorne, uma DJ de estação de rádio na cidade de Salem, recebe um disco de vinil misterioso com a mensagem "Um presente dos Lordes", ao escutá-lo Heidi começa a delirar como se estivesse hipnotizada, desde então coisas estranhas começam a acontecer levando-a questionar sua sanidade e o que é real.

As Senhoras de Salem é um ótimo exemplo de como fazer de temas usados tão demasiadamente pelo gênero terror, como bruxaria e satanismo, algo único e quase que glamoroso, convidando o público a embarcar nessa história seja por curiosidade ou encanto pela sua estética.

O diretor Rob Zombie sempre foi severamente criticado pelos seus filmes parecerem muito mais um clipe de música prolongado do que qualquer outra coisa, mas isso não deveria ser surpresa para qualquer um que faça uma pequena pesquisa a seu respeito, Rob iniciou sua carreira no mundo da música com a banda White Zombie em 1985, e desde então ele mesmo tem dirigido diversos dos clipes, então seria quase impossível não trazer bagagem de seus trabalhos como músico para seus longas.

Mas aqui o diretor se contém ao fazer um trabalho muito mais contido do que extravagante como em seus títulos anteriores, afinal ele havia dirigido quatro filmes de terror extremo seguidos, sendo dois deles Halloween de 2007 e H2 de 2009, este último foi um "inferno" segundo palavras do próprio Rob Zombie, tanto por questões criativas quanto imposições do estúdio.


Rob disse em entrevista que ele queria mudar seu estilo de direção pois seus modismos não encaixavam nessa história, seus personagens anteriores eram tão desconexos da realidade que pareciam mais caricaturas, a maioria de suas linhas de texto continha um palavrão ou uma ofensa, e sua violência era tão gratuita que espantava aqueles que não preparavam-se para os filmes, então quando começou a escrever Lords of Salem, projeto originalmente criado em 2006 em seu álbum Educated Horses, ele escolheu fazer um filme lento, de atmosfera misteriosa e visuais hipnotizantes.

Todo o clima e estética do filme se transforma conforme Heidi vai se afundando nos mistérios que a rondam, quanto maior sua paranoia mais bizarro os cenários ficam, as ruas mesmo pela manhã ficam cinzentas a ponto de ser irreconhecível a diferença entre o amanhecer e o entardecer, seja o local de trabalho, sua própria casa ou até mesmo uma pequena igreja ficam assustadoras, nada parece convidativo, como se o filme estivesse pouco a pouco nos encurralando junto da personagem, tirando todos os lugares seguros e confortáveis para o qual poderíamos buscar refúgio.

As cores são muito fortes e muito bem usadas, enquanto aquilo que imaginamos ser a realidade quando a personagem está sã, é sem cor e entediante, mas assim que ela começa a delirar pequenos detalhes no cenário vão ganhando destaque e crescendo, principalmente o vermelho que é usado como representação de perigo eminente, escalando desde uma cruz néon em uma parede até salões inteiros.

Ao escrever o roteiro do filme, Rob mistura história e ficção, baseado na famosa caça às bruxas de Salem, o diretor criou algo crível mesmo para o público que conhece vagamente a fama da cidade, afinal após um acontecimento tão rodeado de polêmicas e diferentes narrativas é de se esperar que um filme que explore esses fatos faça jus a eles, a cidade de Salem aqui parece aquela típica cidade do interior que você adoraria visitar pela sua atmosfera e legado, e os moradores detestam ter você por lá xeretando fantasmas do passado, com a diferença que o que aconteceu aqui não é algo irreal.


Quando eu usei os termos glamouroso e hipnotizante nessa análise eu me refiro ao fato de realmente ser bonito, o que é curioso pois em filmes de terror é quase cômico como os roteiristas escrevem seus personagens para correrem em direção ao perigo, sempre é um beco escuro, uma casa tão mal cuidada que parece abandonada, ou ao absurdo de procurar pela criatura misteriosa que se esconde atrás das paredes. Falemos sério, quem em sã consciência correria atrás de um demônio te chamando para os fundos da casa após ter certeza de que está sóbrio e certo do que viu?

Senhoras de Salem toma como regra uma das artimanhas básicas de cultos satânicos, o conforto e o controle através dos prazeres, afinal mesmo uma pessoa que tenha tendências a atos cruéis recusa a maldade quando é abruptamente jogada em sua frente, vemos diariamente nas notícias os crimes hediondos causados pelas pessoas e pensamos "onde esse mundo vai parar?" Recusamos aquilo e seguimos em frente tentando esquecer que mais uma pessoa foi vítima de um maníaco a solta.

Mas quando somos introduzidos suavemente a uma ideia, a aceitação de que alguns atos nem são tão ruins, que tudo bem fazer isso ou aquilo se nos satisfaz, de maneira agradável e com afagos por essas ações maldosas, o ser humano se torna bem mais suscetível a ceder aos seus atos mais animalescos, e quando se há um trauma para ser explorado, que é o caso da personagem principal neste filme, a dominação dessa pessoa torna-se bem fácil.

Heidi é uma ex-viciada em heroína e estava a anos tentando se livrar das tentações de voltar às drogas, mas quando sua vida vira de cabeça para baixo e ela não arranja mais conforto nem mesmo na presença de seus amigos, a sua vulnerabilidade para todas as ações maléficas manifestadas pelo paranormal fica enorme.


Destaque para Sheri Moon Zombie que aqui faz seu melhor papel desde Baby em A Casa dos 1000 Corpos e Rejeitados Pelo Diabo onde é completamente insana e sádica, eu realmente senti pena dela aqui, tanto a dieta que fez quanto o visual escolhido fizeram a atriz parecer realmente doente enquanto encarnava a personagem.

Infelizmente o filme tem seus deslizes quando o diretor se perde-se em outros maneirismos que ele utilizou em seu primeiro filme anteriormente citado, a inserção de clipes dentro da narrativa, alguns deles eu gosto bastante, são psicodélicos e ofensivos, como se quisessem mostrar o escárnio em cima tudo que é santo e sagrado para a Igreja Cristã, algo esperado de um filme que aborde o satanismo em sua real forma, mas outros são algo que eu esperaria ver nos filmes anteriores ou em um clipe de Rock n' Roll, eu entendo que a ideia era fazer um paralelo com sexo, ocultismo e os clipes de Black Metal de bandas como Mayhem ou Bathory, mas resultou em algo cômico e desconexo do filme.


As Senhoras de Salem apesar de sua estranheza é um filme bem mais original que a maioria do gênero que vemos sair aos montes na indústria, e claramente existe paixão e autenticidade aqui, acredito que alguém que busque um terror dinâmico e que te coloque na ponta da cadeira não é o filme certo, o terror aqui vem da compreensão da fragilidade humana, a sedução que há na maldade de cultos e ritos, e o tormento de não ter se reconciliado com fantasmas do passado, já que as vezes nossas histórias podem ter sido totalmente diferentes de nossos antepassados, mas basta um pequeno vínculo para sofrermos por atos dos quais não somos culpados.

Solid_Mateus


Mateus, amante de Cinema AlternativoFilme BExploitation, e o maioir defensor de diretores odiados pela crítica especializada. Nas horas vagas sou Otaku, mas isso é segredo.

Cargo: Escritor

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