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Uma proposta de Desconstrução que morre por uma Idealização Apelativa | Jujutsu Kaisen | Review



Jujutsu Kaisen é um anime que busca usar da fórmula shounen atual para frustrar uma certa expectativa criada pelo público há alguns destes apelos. Neste sentido, temas uma construção de anime que usa vários recursos que se concretizam de modo que tentam surpreender uma saturação do espectador com o gênero shounen, como: o herói que consegue salvar tal personagem; o personagem principal que salva o dia; um personagem que vê a figura feminina pela bondade, e não pelo corpo. Todos esses atributos convencionais tendem a serem frustrados pelo espectador, já que o anime cria uma expectativa de que vai ser desse jeito, mas ele vai por outro caminho.


Inclusive, o anime não usa tanto tons coloridos e vibrantes bastante comuns em animes de heróis. Ele vai puxar para uma paleta de cores mais escura, e vai usar até mais gore do que o normal. Ele tenta realmente ser mais sombrio em alguns momentos – até também pela narrativa que envolve demônios.

Em uma primeira camada, até parece que Jujutsu Kaisen tenta desconstruir alguns destes recursos convencionais, mas no final de tudo, ele fica apenas na superfície desse ideal. Muito por conta também do modo como o anime vai se sustentar por esse ideal de tentar ir por outro caminho, e usar dessas ideias de forma apelas apelativa.


As cenas de ação que tem uma coreografia bem ensaiada e que tem uma continuidade interessante, são até boas, mas são cenas que já seguem um tipo de “ideal de cena de ação”. Os momentos de comédia têm esse visual bem caricato e escrachado, e que também fazem parte de um certo “ideal de cenas de comédia”. A personalidade dos personagens que são em sua maioria carismáticos e fácil de se apegar, etc.

Apesar de ser um anime que busca repensar alguns desses atributos convencionais, ele acaba sendo bem genérico no modo como vai encarar tudo isso.


Eu até gosto de uma abordagem mais plástica de alguns momentos. Por exemplo, no episódio 20 em que o Gojo consegue se libertar da cortina que o impedia de participar da batalha. Quando ele usa o ataque Vazio Roxo, o anime parte para uma abordagem visual plástica, com cores bem vibrante que é muito interessante. São momentos de deslumbre visual que se fazem muito bem sozinhos. Parece que isso é uma das coisas que fogem um pouco dessa convenção, mas é algo bem isolado.


O que eu quero dizer com tudo isso, é que, apesar de englobar várias possibilidades técnicas muito bem-feitas e animadas, acaba sendo apenas uma união de várias ideias idealizadas. A coreografia bem ensaiada, as cenas de comédia, esse visual mais sombrio, etc. Tudo é feito de modo que apela para um tipo de gosto e padronização atual. Me parece que o Seong-Hu Park tenta se apropriar de algumas formas visuais que fazem sucesso com o público atual, mas faz isso apenas por fazer. Até o famoso encerramento com dança do personagem segue também um ideal meio forçado.


Toda essa superficialidade no modo como tenta se desconstruir e surpreender com essas cenas fica escondida por um grande aparato técnico. É tudo tão “bem-feito” e detalhista que, no cenário atual do público de animação japonesa, parece ser o que é preciso pra um anime ser considerado bom. E ele apenas vai fundo nisso.


Além da abordagem plástica em algumas cenas de ação, uma das coisas que eu também gostei foi uma construção dramática no anime – essa que envolve uma relação de carisma com alguns personagens. Como o Yoshino, que cria um laço com o protagonista Itadori, que é transformado em um demónio, e acaba sendo assassinado no episódio 12. O anime cria toda uma relação que parece ir para um lado mais feliz, e frustra essa expectativa do espectador.

Eu acho que essa esfera em especial funcionou muito bem, pois o anime não me parece ter partido de um sentido de drama padronizado. A cena inclusive é bem rápida e com alguns flashbacks. Em algum momento, nem parece que o personagem morreu de verdade.


No final das contas, Jujutsu Kaisen tem seus bons momentos de forma bem isolada, entretanto, se sustenta única e exclusivamente dessas idealizações e de uma ostentação técnica. O anime pega o que mais atrai e fisga o público atual em termos visuais e joga tudo dentro de uma só esfera. Ele tenta fazer algo novo pegando de alguns atributos do gênero, e faz isso de forma muito convencional.



Henrique Neves é fundador, administrador e escritor do site Casa dos ReviewersFormado na faculdade de Jogos Digitais da Universidade Nove de Julho e estudante ativo (autônomo) de linguagem cinematográfica e animação.

Cargo: Administrador/Escritor

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