O Senhor dos Anéis é o título dado ao livro escrito por John Ronald Reuel Tolkien (J. R. R. Tolkien), na década de 50, sendo adaptado pela New Line Cinema, e dirigido pelo neozelandês Peter Jackson. Assim como os romances, os filmes tiveram três partes, A Sociedade do Anel (2001), As Duas Torres (2002) e O Retorno do Rei (2003). De maneira resumida, a obra narra a jornada de Frodo Bolseiro, um hobbit do Condado, para a Montanha da Perdição, onde destruirá o Um Anel para salvar a Terra Média.
É indiscutível que O Senhor dos Anéis se tornou um marco na cultura pop e influenciou uma geração. Referências aqui e ali, memes para dar e vender e entre outros elementos. O impacto cinematográfico dos filmes talvez seja análogo ao de Star Wars (1977), além de ter sido um dos responsáveis por moldar significativamente a maneira de como os estúdios americanos encaram as adaptações cinematográficas dos livros de fantasia.
O presente texto trará informações, curiosidades e alguns elementos sobre O Senhor dos Anéis, com enfoque nas adaptações cinematográficas.
Muito antes de Peter Jackson imaginar dirigir o filme de O Senhor dos Anéis, Denis O’ Dell, em 1968, teve a ideia de produzir o filme. O’Dell escalaria os Beatles para o elenco principal. Na época a Banda estava na Índia, então o diretor enviou os três livros para os membros.
Fora cogitado os papeis de cada integrante da Banda. Paul McCartney seria Frodo, Ringo Starr interpretaria Sam, John Lennon seria Gollum e George Harrison atuaria como Gandalf. Provavelmente o longa seria alguma espécie de musical de fantasia, ideia confirmada por McCartney. No entanto, o projeto de O’Dell não foi para frente já que Tolkien não se agradou da ideia de um grupo pop produzir o seu livro, e acabou não vendendo os direitos.
Em 1978 O Senhor dos Anéis ganha as telas de cinema pela primeira vez. The Lord of the Rings, de Ralph Bakshi, é um filme animado que engloba A Sociedade do Anel e As Duas Torres. Bakshi é conhecido por realizar animações nem um pouco amistosas para o público infantil (Fritz the Cat é um ótimo exemplo), mais também pela utilização de técnicas de rotoscopia, e não seria diferente em The Lord of the Rings, o que causou certa estranheza.
As vezes era difícil distinguir quem é quem, e o que está acontecendo. The Lord of the Rings (1978). |
Apesar dos problemas, a tentativa de Bakshi em adaptar o livro de J. R. R. Tolkien serve como base e direcionamento para a trilogia de Jackson, tanto que o cineasta neozelandês se inspira, e até usa como referência alguns elementos da animação de 78.
No ano de 1980, é lançado o filme televisivo The Return of the King criado pela Rankin/Bass Animated Entertainment e pelo estúdio Topcraft. Em verdade, a animação é uma sequência de The Hobbit (1977), e se chamaria Frodo: The Hobbit 2, o que faria mais sentido, pois, o filme adapta apenas uma parte do livro O Retorno do Rei.
Primeira manifestação do Olho de Sauron na animação da Rankin/Bass. Mais tarde o conceito é reaproveitado por Peter Jackson. |
É de conhecimento geral que J. R. R. Tolkien era bastante protecionista em relação ao Senhor dos Anéis, não cedendo os direitos sobre a obra. Tanto é que ele barrou o projeto de Denis O’Dell nos anos 60. No entanto, a United Artists adquiriu os direitos sobre o livro no final da década. Com o falecimento de Tolkien em 1973, para o bem ou para o mal, seria mais "fácil" conseguir adaptar algo relacionado ao livro sem as intervenções do autor.
Na década de 90, O Senhor dos Anéis volta a ser assunto nos estúdios de Hollywood. Desta vez, têm Harvey Weinstein, ex-produtor e um dos donos da Miramax, e Peter Jackson, cineasta neozelandês mais conhecido por produzir e dirigir filmes B (Náusea Total e Braindead), como figuras centrais. A princípio, Weinstein propôs a Jackson a produção de 3 filmes: O Hobbit e 2 filmes de O Senhor dos Anéis.
Weinstein não é um indivíduo fácil de lidar, e assim como quase todo executivo de empresas cinematográficas, suas ideias são inquestionáveis. Tentando contornar o orçamento para o filme, o cabeça da Miramax juntaria todos os livros em um só filme (sim, de novo essa ideia) e cortaria diversos aspectos importantes da obra. Observando que o conceito não daria certo, Jackson entrou em conflito com Harvey e ameaçou abandonar o projeto. Conversa vai, conversa vem, a melhor saída seria arrumar uma parceria para dividir os custos da produção.
2. A SINFONIA DA TERRA-MÉDIA:
O que seriam dos filmes sem as trilhas sonoras? Algumas são tão memoráveis quanto os próprios filmes. Por exemplo, quando ouvimos Jaws-Main Title de John Williams, facilmente pensamos no longa 'Tubarão' de 1975. A trilha sonora é um elemento que transporta o espectador para um estado de encanto e, de alguma maneira, 'materializa' diferentes emoções e estados de espírito simultaneamente.
Nove notas para nove membros. The Music of the Lord of the Rings. |
Fonte: The Music of The Lord of the Rings Films – Doug Jones (adaptado).
É notável a existência de uma "diegese melódica". Os temas relacionados a Mordor e aos orcs ganham mais destaque na trilha, evidenciando a vantagem bélica do exército de Sauron, apesar de os temas de Gondor buscarem alguma presença. Vale pontuar que os "themes" na trilha sonora podem apresentar-se sobrepostos, entrelaçados, repetidos e até não estarem bem definidos.
3. A MÁQUINA NÃO PODE PARAR:
Se define máquina por qualquer conjunto de peças combinadas para receber energia, transformá-la e restituí-la de forma mais apropriada, produzindo determinado efeito. Este é o conceito mais concreto da palavra; no entanto, Tolkien também atribuía a ela um significado filosófico.
Para o autor, a máquina representa, fundamentalmente, poder de domínio sobre as pessoas. Um instrumento de coerção, controle e escravidão. A força corruptora da máquina é visível na guerra e na conquista militar.
Quando Saruman, O Sábio (Christopher Lee), é corrompido pelo desejo de poder, transforma Isengard em uma grande fábrica bélica (uma máquina) com a intenção de dominar e subjugar os povos livres. O mago cria uma nova raça de orcs (Uruk-hai), mais fortes e resistentes que os demais. A natureza dessas criaturas é odiar todos os outros seres, e talvez odeiem até a si mesmas. Elas não reconhecem beleza e gentileza, apenas desejam a destruição empunhando armas. São produtos. Instrumentos para a dominação.
Os Uruk-hai de Isengard. Quase que uma linha de montagem. O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel. |
No entanto, a máquina apropria-se de algo humano, a capacidade de criação. Os hobbits, por exemplo, gostam de elaborar móveis, utensílios, carroças, materiais de jardinagem e outras coisas. Alegrando-se com o que produzem. A finalidade destes materiais é auxiliar seus afazeres diários, ao mesmo tempo que buscam prazer ao criar suas ferramentas. Os homens, por outro lado, podem ser levados a supor que o poder de produzir é a capacidade de dominar.
É evidente que J.R.R. Tolkien lança uma visão pessimista sobre o que ele considera ser a máquina. Possivelmente, tal concepção esteja relacionada ao contexto de vida do escritor, já que ele presenciou o avanço industrial, que gerou transformações tanto no ambiente quanto na sociedade. Ele viveu duas grandes guerras e testemunhou a destruição causada pelo maquinário bélico e suas consequências. Apesar de suas ideias, talvez a maldade não esteja na máquina em si, mas sim em quem a conduz.
A "industrialização" de Isengard. O Senhor dos Anéis: As Duas Torres. |
Além disso, a preocupação de Tolkien pode ser referente à dependência que as pessoas têm, ou virão a ter, com a máquina, assim como a perda de intimidade e esmero que os indivíduos teriam no trabalho, já que o intuito é a automação e a produção massificada. Fico a me perguntar qual seria a reação do autor ao observar o cenário atual. Provavelmente, não ficaria surpreso.
3. O ANEL MALIGNO:
“Ash nazg
durbatulûk, ash nazg gimbatul, ash nazg thrakatulûk agh burzum-ishi krimpatul.
”
Anéis mágicos são componentes corriqueiros em obras de fantasia, representando artefatos poderosos e que, por vezes, ditam grande relevância dentro das narrativas. Provavelmente, um dos anéis encantados mais famosos seja o que aparece na ópera Der Ring des Nibelung, de Richard Wagner. Na obra do compositor, o objeto concede ao seu dono poderes, atraindo a atenção de diversas figuras que almejam sua posse.
Um Anel para a todos governar. Um Anel para encontrá-los. Um Anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los. O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel. |
O conto fala sobre o anão Alberich, obcecado pelo ouro que repousava no fundo do Rio Reno, descendo às profundezas das águas para adquiri-lo. Com o ouro sob seu domínio, o nibelungo obriga seu irmão Mime a forjar um anel utilizando o material coletado. Posteriormente, Alberich amaldiçoa a joia, provocando assim a morte de Fasolt por Fafner, que toma controle do artefato. Wotan (Odin), alarmado, deixa o anel em um bosque sob a tutela do gigante Fafner, que foi transformado em dragão. Ele o guarda cuidadosamente por vários anos. No entanto, todos que adquirem conhecimento sobre o objeto o desejam, e tampouco conseguem esquecê-lo, pois ele envenena o coração das pessoas.
Pelos recortes desses contos, pode-se perceber várias similaridades na obra de Tolkien, sendo o de maior destaque o efeito nocivo que o objeto possui. Tanto no filme quanto no livro, o anel é uma peça fundamental na narrativa e está ligado ao destino da Terra-Média. É quase irônico que algo tão pequeno tenha tamanha importância. Em O Senhor dos Anéis, ele vai ganhando uma presença considerável no decorrer da história. A princípio, a pequena argola dourada é apresentada de modo inofensivo, sendo apenas um anel, mas aos poucos vai sendo revelada sua natureza.
O Um Anel é maligno por essência, pois até aquele que deseja utilizá-lo para um grande bem se corrompe, acabando por perverter as intenções de quem o porta. Ele não apenas degrada moralmente, mas também fisicamente. Representa o auge da discórdia, e mesmo quando não está sendo utilizado, sua presença exerce influência sobre os outros. É quase como se pudesse dialogar mentalmente, maquinando, manipulando e seduzindo.
A natureza do Um Anel é revelada no conselho. Ele deve ser destruído. O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel. |
“E nos esquecemos do sabor do pão...do som
das árvores...da suavidade do vento. Até nos esquecemos do nosso próprio nome.
”
Comentar sobre O Senhor dos Anéis sem mencionar o peculiar Gollum (ou Sméagol) é praticamente impossível, tendo em vista a grande relevância que ele possui na história. A princípio, não é possível identificar a raça à qual ele pertence; apenas sabemos que ele tem uma forte ligação com o Um Anel.
Sméagol é o melhor exemplo do que o Um Anel pode fazer ao indivíduo a longo prazo. Corrompe, deforma e distorce a mente, tornando-se um fardo, e mesmo assim, ele não consegue se livrar do objeto. Sméagol/Gollum vive em uma eterna discussão, ora desejando, ora não querendo o anel; ora amando, ora odiando a si mesmo. Por vezes, é difícil determinar se é uma criatura digna de piedade ou se merece ser castigada devido à sua malícia.
Na adaptação de A Sociedade do Anel, Gollum não aparece de maneira clara, sendo apenas visto à distância e de modo rápido. Essa foi uma escolha interessante de Jackson em não revelar o ser. Isso atiça a curiosidade do espectador em conhecer melhor a criatura e qual seria sua importância na trama.
Gollum apenas aparece totalmente em As Duas Torres, trazendo para a tela sua complexidade e peculiaridades. A maneira como Jackson, e principalmente sua esposa Fran Walsh, constroem o transtorno dissociativo de Sméagol entrega o charme do personagem. A cena que ocorre no segundo filme emula a discussão entre Sméagol e Gollum, utilizando jogo de câmeras com diferentes ângulos. Como resultado, parece que presenciamos dois indivíduos de frente para o outro.
Gollum e Sméagol discutem. O Senhor dos Anéis: As Duas Torres. |
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
“Meu trabalho agora está concluído.”
O Senhor dos Anéis não é apenas mais uma trilogia de filmes da grande Hollywood. Foi um esforço coletivo de diferentes diretores e produtores que ocorreu ao longo do tempo, na tentativa de adaptar o mundo de uma das obras literárias mais importantes. Tolkien criou um universo rico e cheio de possibilidades, e por esse âmbito, toda adaptação com a finalidade de expandi-lo é bem-vinda. A questão é: como será sua realização? Retornar à Terra-Média é sempre uma experiência imperdível.
Kanch0me
Kanch0me (Arthur Felipe Valença) é formado pela Federal Rural de Pernambuco em Biologia, além de técnico em informática. Atualmente é estudante de Licenciatura. Entusiasta da indústria cinematográfica e amante de animes, mangás, HQs e videogames.
Cargo: Escritor
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